segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Pelas ruas de POA

Como num transe
Devagar divaga
Por entre as ruas e as calçadas       
Sob o apelo de seus amantes
                                   
Nua em pelos
Transita no trânsito  
Tornando-se visível
Sob a vista de seus parceiros
                                     
Eis que a chuva cai
Lavando, leva o caos
Molhando, lava a alma

Colírio dos olhos aflitos
Desvenda o inacessível
De uma memória sofrível

Nua, se vê só
Filha única desse destino
Divaga e transita nas ruas
É apenas um indivíduo

Ana Flávia Rocha

quase haicai do dia


Não sou correio mas
sou Brasiliense

terça-feira, 18 de novembro de 2014

DA DITADURA DAS CORES E INCOERÊNCIAS AFINS...

Dois amigos estão conversando enquanto um deles se arruma...

O um, que se prepara, vestindo uma camisa branca, pergunta ao outro se está "pinta" e o outro diz que está achando meio sem-graça... calça preta e camisa branca? muito neutro, meio sem personalidade... tipo funcionário-padrão...
O um lhe mostra, então, uma linda camisa rosa. O outro nem espera o um lhe questionar e diz "Claro que não, véi, rosa é meio viado! Eu não saio sozinho contigo..."
O um, sem entender, pergunta: "Então, se eu quisesse parecer totalmente viado, eu teria que vestir vermelho, já que o 'rosa é MEIO viado' e o branco, 'muito neutro'?"
O outro lhe responde que, neste caso, já se trataria de um petralha, comunista, amante de cuba... "Vai apanhar na rua, hein!? Além do mais, se vc puser vermelho com essa sua calça preta , vai ficar flamenguista, né, cara?!", completou o outro.
um: "azul ?"
outro: "Cor de macho, mas é cor do Grêmio que arrasou teu timeco ontem! hahaha"
um: "verde ?"
outro: "Maconheiro pode-crer!"
(...)
um: "Cara, não vou de preto de novo... Tô voltando a ser metaleiro!"
outro: "Véi, bota aquela branca que tava maneira... Mas muda a calça, de repente..."
(...)
O outro: "Mas cara, eu tô aqui, te vendo experimentar roupa, te dando conselhinho de moda e tals?! Isso não é meio viado?!"
O um: "Pois é, pra vc ver a quantas ditaduras se submete um homem!"

domingo, 16 de novembro de 2014

Conversa no sofá

Estava eu sentada em meu sofá.
Ouço à porta bater,
E pergunto quem vem lá?

Era o medo querendo conversar.
Falamos por horas,
E ele me pediu para ficar.

Levantei então,
E sedi o meu lugar.
Saí pela porta, para nunca mais voltar.

E o medo?
Ficou lá sentado,
Sozinho a pensar.


(Ana Barros)

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Domingo no parque ( Paulo M. Chapa)





Bala azul ou bala vermelha?
Elas estão dispostas uma em cada mão
Uma na esquerda outra na mão direita, mas se embaralham e trocam de mão
Intermitentemente;  Intermitentemente; Intermitentemente
Tem que pegar rápido! Ouço uma voz!
Azul, azul, vermelha, vermelha, vermelha, azul,
Troças, truques, desfaçatez
É como o jogo dos três copinhos
Pega trouxas na rodoviária
Atenção senhor! A bolinha é de espuma e passa de copo em copo quando friccionada na plataforma. Não perca o seu dinheiro da passagem. Como vai pra casa? Naaaao!
Tarde de mais! Mais um cidadão enrolado! – “um dia mato um ladrão desses”.  “São que nem Políticos”.
Agora aposto na roleta dos times de futebol
Quase todo meu dinheiro no Corinthians e....treck, treck, treck
Meeerda! Deu Bragantino!
Por favor me dê uma maçã do amor
Só o amor pode nos consolar
Miro no alvo e pummm!
A rolha acerta o teto!
Riso no rosto do guri que assiste com cara de sacana
O outro garoto me pede: paga um tiro pra mim tio! Dou-lhe moedas!
Estou na fila da roda gigante. Que delícia quando estou no alto! Queria ficar somente no alto!
Lembro das balas! Tenho mesmo que escolher? Não acredito na mudança!
O desânimo se abate sobre mim. Estou deprimido; tomara que passe logo. Queria ver alguém que saiba quem eu sou.
Queria ver alguém que me ame de verdade!
Choro no carrossel! O sorriso da criança me acalma!
Não entro em trem fantasma. Evito o palhaço! Detesto o palhaço.
As luzes do parque vão se apagando. “Estamos fechando”!

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Arcablues

Meus desejos
Como pedras que rolam
Vão até onde desconheço
E de mim se apossam

Uma simples nota
Me encanta e me enamora
Um forte solfejo
Me leva onde me perco

A noite é azul
O som um blues
Mistérios a meia luz

Isso é só o começo...

Ana Flávia Rocha

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Naufrágio

Meus pensamentos soltos
Restos de um naufrágio
Flutuam num mar revolto
Indizivel emoção

Meus pensamentos frágeis
Sem ninguém na embarcação
Pensa que tudo sabe
E se perde na tradução

Não há proa nem vela
Barco sem timoreiro
Eis-me aqui em desespero
Naufrago em colisão

Meus Pensamentos rotos
Nada tenho, nada meu
Por isso escrevo e sonho
Ser inteiro é ilusão

Ana Flávia Rocha

sábado, 20 de setembro de 2014

Noite

A noite que chegou a minha casa
Dela se fez senhora
Bagunçou meu armário, apagou minhas estórias
Sujou minha cozinha, leu minhas poesias
E insiste não querer ir embora

A noite que chegou a minha casa
Fechou suas frestas e suas portas
Deitou-se em meu leito, colocou-me em seu seio
Prometeu um novo coração, largou-me na solidão

Minha retina agora se perdeu da velha senhora
Tateio o armário e o leito
Engatinho pela cozinha
Não me vejo no espelho

Noite negra, alma minha

Ana Flávia Rocha

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Tesão pré menstrual

Excitada, um muco espesso, um cheiro agridoce, a gula por mel
Irritada, um sono perene, os sonhos profundos, a fome do mundo
Cansada, um corpo pesado, a mente confusa, a calcinha molhada
Mulher, sangue que circula
Homem, por favor escute
Se espada tivesse, atravessaria seu peito
Retalharia seus membros
Vomitaria a injuria guardada na garganta
Faria você engolir goela a baixo todo meu destino
Da ilusão que sou seus pensamentos
Te cortaria a língua em mil pedaços, para calar suas asneiras
Te abriria o coração, para ver aquilo que sua limitada visão
Não consegue entender...
Mas por sorte há o mal
Que me convida a esse ritual de trevas
Vampiro as minhas ideias
Embarco para um breu profundo
Onde eu finalmente possa
Profanar minha carne, somente minha, em nome de deus
Dançar inteiramente nua
Desejar o úmido encontro de texturas,
Espalhar meu sangue e meu azedume, e dizer adeus
Oh divindade obscura, dei-me o vinho da lucidez
Transforme minha doçura apreendida
Na fera que por terra fora ferida
Uivarei, pois bicho sou
E não há teoria que me estipule
Ou que tente explicar o que não vês:
A minha tensão não é pré-menstrual
Sofro de tesão
De ser fêmea e efêmera...

Ana Flávia Rocha

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Conjugando o verbo ser e ir

Quem sabe porque os verbos ser e ir são idênticos em tantos modos e tempos  - pretérito perfeito do indicativo, pretérito mais que perfeito do indicato, pretérito imperfeito do subjuntivo, futuro do subjuntivo-  fazem parte da minha mais pura essência o viajar e o movimento...

quinta-feira, 24 de julho de 2014

No meio do caminho, há um jardim partido...

Sobre meus pés a terra batida
Por tanto tempo prometida
De amores que nunca virão

Em minhas mãos um alvoroço
Contas de desgosto
Destroçado coração

Sou lavrador carente
Alma dolente
Escondida emoção

Sou lavrado inútil
Meu respirar fútil
Ar sem pulmão

Meu jardim sem flores...
...aonde fostes?

Minha saúde enterrada
Minha vida salgada
Meu labor em vão

Ana Flávia Rocha

terça-feira, 15 de julho de 2014

Poema Etílico

Esse nó
Essa dança travada na garganta
Esse descompasso no peito
Esse gingado quente que amolece a pança
Esse sacolejo sem jeito
Essa musica que balança

Esse ser
Esse estar, 
Esse mal-estar
Esse doce
Esse azedo
Esse abismo
Essa visão do nada
Esse desconforto que não acaba

Essa palavra não dita
Esse pensamento indizível
Essa dor maldita
Esse amor invisível
Essa falsa vida
Essa lógica invencível

De memórias de alegria roubada
Barco náufrago, pedaços jogados
Meu quebra cabeça sem lógica
Minha alma num copo de vodca

Ana Flávia Rocha



terça-feira, 24 de junho de 2014

sábado, 21 de junho de 2014

Senegal

 



"Negros ilê-aiyê avançam pelas ruas centrais da cidade
Senegalesas mulheres vaidosas mostrando intensidade"





quarta-feira, 26 de março de 2014

Algo em voga


Algo em voga enlaça a taça
Falo em vulva envolve a madrugada
Olgas, Cássias, Anas, Cristianes
Lili Bricks?
Labirintos
lábios rindo
lambem o rio
jorrando, jorrando, jorrando
sorrindo e vindo; sorrindo e vindo; sorrindo e vindo


Paulo M. Chapa

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Dose diária




Preciso da minha dose diária de você.
Dê-me logo!
me ligue, me olhe, me toque, me beije...
Não se esqueça de trazer seu cheiro, sua presença e seu sorriso.
Traga-me logo o meu paraíso.

 
 Paulo M. Chapa


terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Absinto muito



Absinto muito
mais que precisa
absorto
absorvo
morto
recorro
absurdo
abismo
do sentir
me absolvo
me absinto
minto

Paulo M. Chapa

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Aquiblues


aqui blues um doido
homem-bomba de cores, sentimentos, paixões
aqui jazz um bêbado
equilibrista de copos
na corda-bamba do samba
ali rock um santo
de vez enquanto um pranto
ajuda a alumiar os ói
fui acolaz...
se brincar volto jazz

Paulo M. Chapa


sábado, 22 de fevereiro de 2014

Óculos....


Levei meus óculos para passear
Achando que assim iria enxergar
Mas para minha surpresa
O que realmente precisava 
Era fechar os olhos e confiar....

Ana Barros

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Desabafo


Estamos perdidos! Abandonados de nós mesmos!

Vivemos hoje em um mundo onde as pessoas não sabem mais o real “valor” que tem. Hoje é difícil se reconhecer nesse emaranhado de informações e exigências sociais.

A nossa “utilidade” foi reduzida a mero saber técnico, tornando difícil as coisas fazerem sentido.  Não somos meramente técnicos,  somos um conjunto de capacidades e sentimentos. E esse saber intuitivo não é reconhecido pela lógica capitalista, que transformou a muito tempo o saber e o ser em um produto, em um valor monetário.

Tenho tido muita dificuldade em ter que me enquadrar dentro das exigências pouco humanas do mercado, que prega uma competição e exige que todos sejamos “os melhores”.  Como ser “melhor” que o outro? Ninguém é melhor que ninguém! Somos complemento!!!! E todos temos algo com o que complementar! Já diziam por ai que nesse mundo nada se cria tudo se copia, se complementa....  se movimenta!!!

Ando desiludida, pois vejo hoje no mundo uma dificuldade e falta de capacidade de enxergar no outro qualidades e competências. As pessoas hoje se valem de um julgamento pouco justo para com o próximo,  pedem mais do que oferecem,   rotulam, caem em clichês, cobram uma quantidade surreal de competências, o que é humanamente impossível de se ter e de ser,  mas humanamente possível de se construir se começarmos a pensar de forma realmente coletiva.  O meu pouco somado ao pouco do outro forma um inteiro!

Mas num mundo tão moderno e tecnológico percebo a dificuldade que todos tem em estabelecer contatos e vínculos reais. Não que eles não aconteçam, mas estão mais difíceis a cada ano que passa.  Barreiras e abismos imateriais foram construídos e comprados por nós.

Claro que existem iniciativas e pessoas que compartilham desse pensamento, e é isso que ainda me da esperança!

Ana Barros