sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Arcablues

Meus desejos
Como pedras que rolam
Vão até onde desconheço
E de mim se apossam

Uma simples nota
Me encanta e me enamora
Um forte solfejo
Me leva onde me perco

A noite é azul
O som um blues
Mistérios a meia luz

Isso é só o começo...

Ana Flávia Rocha

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Naufrágio

Meus pensamentos soltos
Restos de um naufrágio
Flutuam num mar revolto
Indizivel emoção

Meus pensamentos frágeis
Sem ninguém na embarcação
Pensa que tudo sabe
E se perde na tradução

Não há proa nem vela
Barco sem timoreiro
Eis-me aqui em desespero
Naufrago em colisão

Meus Pensamentos rotos
Nada tenho, nada meu
Por isso escrevo e sonho
Ser inteiro é ilusão

Ana Flávia Rocha

sábado, 20 de setembro de 2014

Noite

A noite que chegou a minha casa
Dela se fez senhora
Bagunçou meu armário, apagou minhas estórias
Sujou minha cozinha, leu minhas poesias
E insiste não querer ir embora

A noite que chegou a minha casa
Fechou suas frestas e suas portas
Deitou-se em meu leito, colocou-me em seu seio
Prometeu um novo coração, largou-me na solidão

Minha retina agora se perdeu da velha senhora
Tateio o armário e o leito
Engatinho pela cozinha
Não me vejo no espelho

Noite negra, alma minha

Ana Flávia Rocha

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Tesão pré menstrual

Excitada, um muco espesso, um cheiro agridoce, a gula por mel
Irritada, um sono perene, os sonhos profundos, a fome do mundo
Cansada, um corpo pesado, a mente confusa, a calcinha molhada
Mulher, sangue que circula
Homem, por favor escute
Se espada tivesse, atravessaria seu peito
Retalharia seus membros
Vomitaria a injuria guardada na garganta
Faria você engolir goela a baixo todo meu destino
Da ilusão que sou seus pensamentos
Te cortaria a língua em mil pedaços, para calar suas asneiras
Te abriria o coração, para ver aquilo que sua limitada visão
Não consegue entender...
Mas por sorte há o mal
Que me convida a esse ritual de trevas
Vampiro as minhas ideias
Embarco para um breu profundo
Onde eu finalmente possa
Profanar minha carne, somente minha, em nome de deus
Dançar inteiramente nua
Desejar o úmido encontro de texturas,
Espalhar meu sangue e meu azedume, e dizer adeus
Oh divindade obscura, dei-me o vinho da lucidez
Transforme minha doçura apreendida
Na fera que por terra fora ferida
Uivarei, pois bicho sou
E não há teoria que me estipule
Ou que tente explicar o que não vês:
A minha tensão não é pré-menstrual
Sofro de tesão
De ser fêmea e efêmera...

Ana Flávia Rocha