Foi numa
noite fria que despertei de um pesadelo maldito. Havia tempos que já não sabia
o que era uma poesia. Havia tempos que o amor era somente um objeto inatingível.
Abri os olhos e juntei tudo que sobrara dos tempos vividos. Num gesto de
sofreguidão, arranquei do corpo as velhas lembranças adubadas com fantasias de
uma criança que somente sonhara. Isso tudo começou na primavera: as estações
mudaram, as chuvas cessaram, o calor passou e o outono chegou... Mas meus olhos
ainda carregam as lembranças da primavera sem flor, do verão sem calor e de uma
vida sem amor... Dos meus olhos despregam-se lágrimas que regam os últimos
canteiros de esperança de ter uma morte sem dor.
Ana Flávia Rocha

