terça-feira, 22 de novembro de 2016

Nina

Qual viúva já chorei de amor
Mas agora acabou
E meu coração morreu

Enterrei-o ainda vivo
Para saber-se morto
Sem conseguir saber-se meu

Mas se um dia voltar a pulsar
Engravidarei de saudades futuras
Do que enterrado nunca viveu

Da terra batida ela brotará...

Pele de mel e olhos de breu
Esculpida qual camafeu
Nina dormirá em braços meus

Ana Flávia Rocha

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Birman

Meu corpo entumecido
Fragilizado de relações humanas
Guadra em si palavras não ditas
Decoradas de ladainhas estranhas

Meu corpo entorpecido
Roto desde a infância
Des-mente, des-afeta e des-sente
A dor em sua entranhas

Difícil é satisfazer
O coração que deseja tanto

Ana Flávia Rocha

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Narguilesofando

Ele me ajuda a conviver com Ela
O Outro me ajuda a conviver com Ele
Elas me ajudam a conviver comigo
E os outros me ajudam a viver

A música me ajuda a entender
O poema a ser
E tudo me ajuda a refazer...


Ana Flávia Rocha 

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Sépia

Esse afeto
Fala de coisas que desconheço
Por que desejo o que odeio?
Por que amo o que dilacera?
Qual o sentido da trama
Que me lança nessa dor?

A onda, por mais forte que arrebente
Não alcança o topo da montanha
Que guarda em si o inconfessável domínio
Do corpo que nunca se desprende
Do que no mar nunca se encontra

A onda que se lança
A montanha que se sustenta
O desejo que se sente
Dupla face da façanha
De ser gente simplesmente

Ana Flávia Rocha

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Iansa

Olha o vento
Olha o vento virou
Ventou, ai que ventania
Ventou, e o mundo girou.

Ana Flávia Rocha