quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Eu 
Sujeita à cultura,
Amarrada à humanidade
Socializo para existir

Existo em utopias racionais
Buscando a natureza que em mim se esvai 

Diversas formas de encarar o mundo nós temos.
Sentindo, tocando, cantando... vivendo!

Mas temos uma coisa para lembrar.
O afeto que vai te guiar não pode racional ficar. 
Ele exige expressão e o caminho é o do seu coração. 

Podemos nos perder na expansão, então 
deixa ser natural a emoção que aflora
Acolha o que seu ser quer botar para fora.

E é sempre bom lembrar

Somos portadores de falta... de vazio... de nada...


Ana Barros 
Pois é 
Está tudo errado 
Essa coisa de homem fragmentado
Pedaços sozinhos não formam o todo
Tem que ter cola, remendo, nó
Para que então possamos ser um só
E depois de colado os seus pedaços
Aí sim você pode criar laços.
O cartesiano racional 
não pode excluir seu lado natural.


Ana Barros

quarta-feira, 27 de junho de 2018

Inverno

É inverno
Em dia frios as janelas se encerram
As plantas respiram o ar quente guardado do fogão
As plantas respiram em meus pulmões
E vejo o frio de dentro
Sem entender ao certo
O calor das paixões

É inverno
Faz frio, minha boca se encerra
Nos pulmões só minhas ideias
No coração, o calor das plantas
Que respiram o fogo
Queimado na paixão

Ana Flávia Rocha

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Poema para um Gigante


Porquê tão pequena, me pegaste no colo e me elevaste a um patamar que até então não conhecia
Porquê tão distante do que vias, me sentia em terra de gigante ao seu lado. Tudo era farto, claro e grande
Eu, em minha miudeza, não percebia que me elevavas ao que me pertencia, mas que somente os seus olhos viam 
Porquê mesmo distante, decorei o caminho, e num eterno encanto sonhava trilhá-lo sozinha 
Porquê mesmo pequena, tive a certeza que poderia ser algo além do dito. Reconstruí a casa, a sala e a fala 
Agora grande, ocupo o espaço e a estrada, e já me habito nesse lugar
Agora grande, te vejo tão maior do que via antes
Por que me colocaste numa estrada que só alcancei por ter me elevado em seus ombros
Porquê ser você me fez ser Ana, e ser Ana é uma parte de ser grande, como você.

Ana Flávia Rocha


terça-feira, 10 de abril de 2018

Anoitecer

Já é tarde.
Em minhas mãos
não cabe mais um grão de esperança.

Já não acredito
na alegria alheia,
e tenho o amor como exceção.

Há tempos não me reconheço
nos sonhos antigos de criança.

Quando sonho,
não me vejo —
apenas apareço
como espectadora de motivos alheios.

Há tempos sei,
com nítida certeza,
que morrerei sozinha.
E tenho medo.

Por isso,
peço-lhe:
fique ao meu lado ao anoitecer.

Ensine-me a ver
o que já não consigo ver.

Meu olho,
habituado ao passado,
já não me reconhece.

Fique.
E não me dê amor…
Apenas fique,
e me dê suas mãos —
para que eu possa envelhecer.

Ana Flávia Rocha

sexta-feira, 6 de abril de 2018

Desatinos

Nubla o céu com nuvem
O vento sopra sem direção
O sol se esconde de vergonha
Desatinos das aves causam aversão
Gente não entende o mar
Nem a brisa a cantarolar
Pois não voa a pessoa
Qual andorinha no verão

Ana Flávia Rocha

segunda-feira, 2 de abril de 2018

Insone

Sabia que tinha nascido na data certa, que não haveria estação melhor para o corpo,
e que às vezes o frio não é passageiro.

Sabia também que aconteceria o justo, que tudo flui conforme o percurso do próprio fluido,
e que não resta nada mais do que olhar.

Sabia que morreria um dia — por ser destino certo —
e que amaria novamente, por também ser destino,
mas da ordem do incerto.

Sabia, desde muito criança, que seria mãe do Zeca,
pois ele já estava nela desde que ela nasceu,
assim como ela sabia quem seria sua mãe,
pois estava nela desde que nascera.

Sabia que aprenderia sobre a natureza para se conhecer,
pois na primavera as flores desabrocham
e, no inverno, dormem.

Sabia que há tempos lunares e outros solares,
e que os poemas se formam de dia e nascem à noite.

Sabia que aquela música, naquela hora em que se presta atenção,
sempre tem algo a dizer —
assim como os livros que caem em nossas mãos.

Sabia que a solidão era dada,
apesar de temida e desejada.

Sabia que os sonhos nunca são esquecidos,
apenas os confundimos com os delírios do dia.

Sabia que dormir seria difícil.
Por isso escrevia — e fingia que sabia.

Ana Flávia Rocha

quarta-feira, 21 de março de 2018

Envelhecer

Talvez eu permaneça no limbo, amor
Esperando que uma tempestade arranque 
Essa lente de mal contato

Envelheço à luz do dia,
Aos olhos cegos da noite não me vejo
E já nem sei mais como me portar

Talvez eu morra antes da carne amor
Para que meu olhar não sinta mais o dia
E o corpo padeça antes do alvorecer

Talvez, amor, eu já não seja mais quem eu sou
Talvez eu morra sem envelhecer
E envelheça sem me ver

Ana Flávia Rocha