É que algo, no fundo de algum lugar
que não sei onde fica, me paralisou por completo. Fez com que meus pratos caíssem,
que eu perdesse a carteira, que ladrões, com meus cartões, sacassem todo o
dinheiro do meu banco… só não bati o carro pois, esse recurso, já fora demasiadamente
utilizado por mim, colocando-me atenta aos descontroles dessa ordem. E foi
assim que, de assalto, fui acometida por um pensamento lúdico, cheio de
possibilidades, com cheiro e cor. Não sei ao certo o que é, onde se
encontra, como se chama… só sei vinculá-lo aos desmandos do coração… não há
controle, não há ordem, não há sustento… só uma sensação de preenchimento de um
vazio que, de tão vazio, se torna vaso para a ilusão. Estou com medo, meu amor,
dessa planta que se faz raiz… se um dia as tirar daqui, o vazio, esse mesmo que
me assombra, irá tomar conta de mim, de tudo, e chorarei por noites… chorarei
muito… cadê o guarda? Chame-o por favor. Diga a ele que corro perigo, que estou
vulnerável, que meu corpo padece e minha cabeça já não me obedece… diga a ele
que tenho coisas para fazer, que são tantas, que não há tempo para perder com
vazios, plantas, raízes e ilusões… diga que estou com medo, que tenho planos futuros, e
que incorrer no erro já não quero mais.
Diga que gozo de um gozo
sem cama, sem chão, e isso me assusta.
Ana Flávia Rocha