sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Imensa

Imensa é a palavra que me habita. 

Tudo ocupa quando dita.

Imensa a saudade, imenso o amor, imensa a tristeza, imensa a dor. 

Imenso é tudo que não vivi.


E o que eu vivo, de tão imenso, não cabe em sonho.


Imenso é o silêncio que antecede a palavra ainda não dita.


Pequena eu fico.


Ana Flávia Rocha 

terça-feira, 5 de novembro de 2024

Enjoos

Não sei o que a vida quer de mim
Não sei… mas tem algo que sabe e grita 
Na calada da noite, no escuro do quarto, na palavra não dita e esquecida 
Tenho enjoos, e meu corpo dói
Não padece, ainda, na esperança da letra
Que não tem forma, mas tem corpo 
Minhas costas… espaldas, guarda costa, visão costeira, espaldar, espalhar, guardar… 
Proteger o corte do peito
E o ano novo será no Pacífico, na costa oeste, rodeado de cordilheiras 
Quem sabe assim a letra apareça e a boca vomite o verbo 
Aí de mim que envelheço 

Ana Flávia Rocha 

domingo, 27 de outubro de 2024

Rastros

Deixarei as cartas de amor, todas que escrevi, espalhadas pelo chão. 
Deixarei que elas, por si só, se cortejem, para que juntas possam trilhar seus desejos.
Deixarei que escapem suspiros de suas folhas, para que seus rastros sejam ouvidos e seus lamentos sentidos.
E quem sabe assim as cartas, que de amor morreram, me levem ao coração.

Ana Flávia Rocha

sexta-feira, 7 de junho de 2024

DRAMAS

É que algo, no fundo de algum lugar que não sei onde fica, me paralisou por completo. Fez com que meus pratos caíssem, que eu perdesse a carteira, que ladrões, com meus cartões, sacassem todo o dinheiro do meu banco… só não bati o carro pois, esse recurso, já fora demasiadamente utilizado por mim, colocando-me atenta aos descontroles dessa ordem. E foi assim que, de assalto, fui acometida por um pensamento lúdico, cheio de possibilidades, com cheiro e cor. Não sei ao certo o que é, onde se encontra, como se chama… só sei vinculá-lo aos desmandos do coração… não há controle, não há ordem, não há sustento… só uma sensação de preenchimento de um vazio que, de tão vazio, se torna vaso para a ilusão. Estou com medo, meu amor, dessa planta que se faz raiz… se um dia as tirar daqui, o vazio, esse mesmo que me assombra, irá tomar conta de mim, de tudo, e chorarei por noites… chorarei muito… cadê o guarda? Chame-o por favor. Diga a ele que corro perigo, que estou vulnerável, que meu corpo padece e minha cabeça já não me obedece… diga a ele que tenho coisas para fazer, que são tantas, que não há tempo para perder com vazios, plantas, raízes e ilusões… diga que estou com medo, que tenho planos futuros, e que incorrer no erro já não quero mais. 

Diga que gozo de um gozo sem cama, sem chão, e isso me assusta.


Ana Flávia Rocha