Na falta de preparo
Do cheiro
Da cama larga
Largamos o leito
Sem medos
Sem dramas
Uma noite na cama
O peito em coma
Rasga a avenida
Que não tem mais fim
Prepara-te à vida
Que virá junto a mim.
Ana Flávia Rocha
Na falta de preparo
Do cheiro
Da cama larga
Largamos o leito
Sem medos
Sem dramas
Uma noite na cama
O peito em coma
Rasga a avenida
Que não tem mais fim
Prepara-te à vida
Que virá junto a mim.
Ana Flávia Rocha
Choros longos de sonhos molhados
Olhos vermelhos de poemas embotados
Na cabeça, um véu de mágoas
Na garganta, um grito trincado
Saias longas e sapatos apertados
Batom vermelho e brincos aperolados
Na camisa, um coração cortado
No sutiã, um bandeie guardado
Mas o amor estancado,
tão tímido e ansioso,
Escorria pelos lábios.
Exaltemos os heróis,
mesmo que pequenos.
Exaltemos, exaltemos —
sua coragem ao extremo,
instinto superior
de gozar a vida sem dor.
Exaltemos, pois,
mesmo aos olhos pequenos,
são grandes seus atos,
grandes suas ações.
Menino — ao te ver, chorei.
Chorei teu choro,
chorei tua coragem,
chorei tua conquista.
Chorei de felicidade
ao te ver tão grande assim.
Ana Flávia Rocha
Era fogo que gritavam.
Gritavam fogo,
cuspiam fogo.
E de suas entranhas, saía fogo.
Não há nada que aquiete
um coração em brasa,
em dois.
Mais do que chama,
ardiam.
Gritavam.
Sorriam.
Se amavam.
Ana Flávia Rocha
Meus excessos.
Minhas bordas.
A falta da palavra,
a dor no corpo,
o mal-estar na alma.
O céu nublado,
a lágrima contida,
a saudade que não acaba.
Meus —
tudo meu.
Medos que não me largam.
Ana Flávia Rocha
O galo
A chuva
O fim da viagem
A exaustão
Os rastros no corpo
Mas sempre tô procurando uma coisa
O aparecimento
da beleza
que surgi
da vida mesma
mesmo que feia
mesmo que insignificante
mesmo que não queira dizer
nada
Nem um retrato
Nem uma parada
Um movimente
Um instante
Que logo que se vê
desaparece
Como uma onça
numa floresta qualquer
Isso é
o que tô procurando
Esse poema foi um presente de alguém que não conheço - na falta de autoria, o poema é meu - presente.
Eu sou tua natureza —
perdida,
sem controle,
suja.
Sou o que dá
e o que tira,
implacável,
injusta,
mas com amor.
Sou o que desconhece e deseja,
fiel aos teus anseios,
estética reversa
de tudo que sonhou.
Com quantas dores
se faz um corpo?
Lugar certo
de arar fantasias
Finca em carne
as poucas e precisas palavras
Suturadas n'alma
As feridas balançam
Ana Flávia Rocha
Imensa é a palavra que me habita.
Tudo ocupa quando dita.
Imensa a saudade, imenso o amor, imensa a tristeza, imensa a dor.
Imenso é tudo que não vivi.
E o que eu vivo, de tão imenso, não cabe em sonho.
Imenso é o silêncio que antecede a palavra ainda não dita.
Pequena eu fico.
Ana Flávia Rocha
É que algo, no fundo de algum lugar que não sei onde fica, me paralisou por completo. Fez com que meus pratos caíssem, que eu perdesse a carteira, que ladrões, com meus cartões, sacassem todo o dinheiro do meu banco… só não bati o carro pois, esse recurso, já fora demasiadamente utilizado por mim, colocando-me atenta aos descontroles dessa ordem. E foi assim que, de assalto, fui acometida por um pensamento lúdico, cheio de possibilidades, com cheiro e cor. Não sei ao certo o que é, onde se encontra, como se chama… só sei vinculá-lo aos desmandos do coração… não há controle, não há ordem, não há sustento… só uma sensação de preenchimento de um vazio que, de tão vazio, se torna vaso para a ilusão. Estou com medo, meu amor, dessa planta que se faz raiz… se um dia as tirar daqui, o vazio, esse mesmo que me assombra, irá tomar conta de mim, de tudo, e chorarei por noites… chorarei muito… cadê o guarda? Chame-o por favor. Diga a ele que corro perigo, que estou vulnerável, que meu corpo padece e minha cabeça já não me obedece… diga a ele que tenho coisas para fazer, que são tantas, que não há tempo para perder com vazios, plantas, raízes e ilusões… diga que estou com medo, que tenho planos futuros, e que incorrer no erro já não quero mais.
Diga que gozo de um gozo sem cama, sem chão, e isso me assusta.
Cansada dos pensamentos
Saudades dos sentimentos
Noite eivada de sonhos
Inspirações que só mesmo quem sabe
E finge não saber
Deleita-se...
Cansada de mim
Saudades de ti
Ana Flávia Rocha
Aí se cê soubesse como te desejo…
Te lamberia devagarinho
Começando pela pontinha da orelha
Roçando meu peitos em seu corpo
Cheirando cada detalhe do seu gosto
Mergulharia a língua em seu umbigo
Sempre olhando para o seu rosto
Sentindo o seu desejo
Ouvindo o seu gozo
Te roçaria por inteiro
Te abraçaria com as pernas
Te lamberia com os braços
Te afagaria com os lábios
Assim você conheceria minhas águas
Ora doce ora salgada
Depositadas em sua boca
Esparramaras em suas coxas
Aí se cê soubesse quanto te desejo…
Ana Flávia Rocha
Da noite escura e fria
Brotam as palavras
Restos de poesia
Sonhos passados
Lembranças escondidas
Esperanças caladas
Emoções que se enterram
Para nascer
Nas noites escuras e frias
Restos de poesia
Ana Flávia Rocha
Enquanto medito para (sobre)viver
Ela vive para meditar
Humanos, tem muito que aprender
Se lamber e ronronar
Ana Flávia Rocha
Ana Flávia Rocha
Deixe-me envelhecer em paz
Eroticamente em paz
Sem beijo, sem toque
Cem peles
Cobrindo o que já não é mais
Com o fogo voltado para dentro
Acesso ao reverso
Incendiando a noite
Morrendo aos poucos
Vivendo a menos
Corpos empilhados
Destino certo
Desvio passageiro
Rasteja em oito
Se instala sem medo
E em paz, envelheço
Ana Flávia Rocha