quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Prepara-te

Na falta de preparo

Do cheiro

Da cama larga

Largamos o leito

Sem medos 

Sem dramas


Uma noite na cama

O peito em coma

Rasga a avenida

Que não tem mais fim


Prepara-te à vida

Que virá junto a mim.


Ana Flávia Rocha

terça-feira, 4 de novembro de 2025

LÁBIOS

Choros longos de sonhos molhados

Olhos vermelhos de poemas embotados

Na cabeça, um véu de mágoas

Na garganta, um grito trincado

 

Saias longas e sapatos apertados

Batom vermelho e brincos aperolados

Na camisa, um coração cortado

No sutiã, um bandeie guardado

 

Mas o amor estancado,

tão tímido e ansioso,

Escorria pelos lábios.

Exaltemos os heróis

Exaltemos os heróis,
mesmo que pequenos.
Exaltemos, exaltemos —
sua coragem ao extremo,
instinto superior
de gozar a vida sem dor.

Exaltemos, pois,
mesmo aos olhos pequenos,
são grandes seus atos,
grandes suas ações.

Menino — ao te ver, chorei.
Chorei teu choro,
chorei tua coragem,
chorei tua conquista.

Chorei de felicidade
ao te ver tão grande assim.


Ana Flávia Rocha

CHAMA

Era fogo que gritavam.

Gritavam fogo,

cuspiam fogo.

E de suas entranhas, saía fogo.


Não há nada que aquiete

um coração em brasa,

em dois.

Mais do que chama,

ardiam.


Gritavam.

Sorriam.

Se amavam.


Ana Flávia Rocha

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

EXCESSOS

Meus excessos.

Minhas bordas.


A falta da palavra,

a dor no corpo,

o mal-estar na alma.


O céu nublado,

a lágrima contida,

a saudade que não acaba.


Meus —

tudo meu.


Medos que não me largam.


Ana Flávia Rocha

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

...

O galo

A chuva

O fim da viagem

A exaustão

Os rastros no corpo

Mas sempre tô procurando uma coisa

O aparecimento

da beleza

que surgi

da vida mesma

mesmo que feia

mesmo que insignificante

mesmo que não queira dizer

nada

Nem um retrato

Nem uma parada

Um movimente

Um instante

Que logo que se vê

desaparece

Como uma onça

numa floresta qualquer

Isso é

o que tô procurando


Esse poema foi um presente de alguém que não conheço - na falta de autoria, o poema é meu - presente.

MEU MUNDO AINDA É TEU

Eu sou tua natureza —

perdida,

sem controle,

suja.


Sou o que dá

e o que tira,

implacável,

injusta,

mas com amor.


Sou o que desconhece e deseja,

fiel aos teus anseios,

estética reversa

de tudo que sonhou.


Ana Flávia Rocha

No meio do caminho


 Arte: Laura Biato

quarta-feira, 9 de abril de 2025

Haicai ferido

Com quantas dores

se faz um corpo?


Lugar certo 

de arar fantasias


Finca em carne 

as poucas e precisas palavras


Suturadas n'alma

As feridas balançam


Ana Flávia Rocha

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Imensa

Imensa é a palavra que me habita. 

Tudo ocupa quando dita.

Imensa a saudade, imenso o amor, imensa a tristeza, imensa a dor. 

Imenso é tudo que não vivi.


E o que eu vivo, de tão imenso, não cabe em sonho.


Imenso é o silêncio que antecede a palavra ainda não dita.


Pequena eu fico.


Ana Flávia Rocha 

terça-feira, 5 de novembro de 2024

Enjoos

Não sei o que a vida quer de mim
Não sei… mas tem algo que sabe e grita 
Na calada da noite, no escuro do quarto, na palavra não dita e esquecida 
Tenho enjoos, e meu corpo dói
Não padece, ainda, na esperança da letra
Que não tem forma, mas tem corpo 
Minhas costas… espaldas, guarda costa, visão costeira, espaldar, espalhar, guardar… 
Proteger o corte do peito
E o ano novo será no Pacífico, na costa oeste, rodeado de cordilheiras 
Quem sabe assim a letra apareça e a boca vomite o verbo 
Aí de mim que envelheço 

Ana Flávia Rocha 

domingo, 27 de outubro de 2024

Rastros

Deixarei as cartas de amor, todas que escrevi, espalhadas pelo chão. 
Deixarei que elas, por si só, se cortejem, para que juntas possam trilhar seus desejos.
Deixarei que escapem suspiros de suas folhas, para que seus rastros sejam ouvidos e seus lamentos sentidos.
E quem sabe assim as cartas, que de amor morreram, me levem ao coração.

Ana Flávia Rocha

sexta-feira, 7 de junho de 2024

DRAMAS

É que algo, no fundo de algum lugar que não sei onde fica, me paralisou por completo. Fez com que meus pratos caíssem, que eu perdesse a carteira, que ladrões, com meus cartões, sacassem todo o dinheiro do meu banco… só não bati o carro pois, esse recurso, já fora demasiadamente utilizado por mim, colocando-me atenta aos descontroles dessa ordem. E foi assim que, de assalto, fui acometida por um pensamento lúdico, cheio de possibilidades, com cheiro e cor. Não sei ao certo o que é, onde se encontra, como se chama… só sei vinculá-lo aos desmandos do coração… não há controle, não há ordem, não há sustento… só uma sensação de preenchimento de um vazio que, de tão vazio, se torna vaso para a ilusão. Estou com medo, meu amor, dessa planta que se faz raiz… se um dia as tirar daqui, o vazio, esse mesmo que me assombra, irá tomar conta de mim, de tudo, e chorarei por noites… chorarei muito… cadê o guarda? Chame-o por favor. Diga a ele que corro perigo, que estou vulnerável, que meu corpo padece e minha cabeça já não me obedece… diga a ele que tenho coisas para fazer, que são tantas, que não há tempo para perder com vazios, plantas, raízes e ilusões… diga que estou com medo, que tenho planos futuros, e que incorrer no erro já não quero mais. 

Diga que gozo de um gozo sem cama, sem chão, e isso me assusta.


Ana Flávia Rocha

quarta-feira, 30 de março de 2022

Acoplamento

Cansada dos pensamentos

Saudades dos sentimentos

Noite eivada de sonhos

Inspirações que só mesmo quem sabe

E finge não saber

Deleita-se...

Cansada de mim

Saudades de ti


Ana Flávia Rocha

domingo, 13 de março de 2022

DESEJO

Aí se cê soubesse como te desejo…


Te lamberia devagarinho 

Começando pela pontinha da orelha

Roçando meu peitos em seu corpo

Cheirando cada detalhe do seu gosto


Mergulharia a língua em seu umbigo 

Sempre olhando para o seu rosto

Sentindo o seu desejo

Ouvindo o seu gozo


Te roçaria por inteiro 

Te abraçaria com as pernas 

Te lamberia com os braços 

Te afagaria com os lábios 


Assim você conheceria minhas águas

Ora doce ora salgada 

Depositadas em sua boca 

Esparramaras em suas coxas


Aí se cê soubesse quanto te desejo…


Ana Flávia Rocha 

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Ciclo


Da noite escura e fria

Brotam as palavras 

Restos de poesia 

Sonhos passados

Lembranças escondidas

Esperanças caladas

Emoções que  se enterram

Para  nascer

Nas noites escuras e frias

Restos de poesia 


Ana Flávia Rocha

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Meditagato

Enquanto medito para (sobre)viver

Ela vive para meditar

Humanos, tem muito que aprender

Se lamber e ronronar


Ana Flávia Rocha





domingo, 28 de novembro de 2021

Amor

Alegre e triste 
Quando pleno
Saber-se só
Quando triste 
Sentir-se parte
Quando alegre 

E o outro
Apenas espelho
Do outro 
Que nega amar 
De tanto amor
Essa dor

Assim é o amor 


Ana Flávia Rocha 

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Envelhecer 2

Deixe-me envelhecer em paz

Eroticamente em paz

Sem beijo, sem toque

Cem peles

Cobrindo o que já não é mais 

Com o fogo voltado para dentro 

Acesso ao reverso 

Incendiando a noite 

Morrendo aos poucos

Vivendo a menos


Corpos empilhados

Destino certo

Desvio passageiro 

Rasteja em oito

Se instala sem medo

E em paz, envelheço


Ana Flávia Rocha

domingo, 6 de janeiro de 2019

CORPO




Corpo
Lugar proibido
Que por não ser assumido
Profanado foi

Corpo
Massa que ocupa
E que se preocupa
Com a culpa que inventou

Corpo
Armadura que sente
Constrói o presente 
Que o pretérito lhe entregou

Corpo
Fantoche da experiência
Afeta o espaço 
Tangificando o laço 
Que a palavra criou

Ana Barros









quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Eu 
Sujeita à cultura,
Amarrada à humanidade
Socializo para existir

Existo em utopias racionais
Buscando a natureza que em mim se esvai 

Diversas formas de encarar o mundo nós temos.
Sentindo, tocando, cantando... vivendo!

Mas temos uma coisa para lembrar.
O afeto que vai te guiar não pode racional ficar. 
Ele exige expressão e o caminho é o do seu coração. 

Podemos nos perder na expansão, então 
deixa ser natural a emoção que aflora
Acolha o que seu ser quer botar para fora.

E é sempre bom lembrar

Somos portadores de falta... de vazio... de nada...


Ana Barros 
Pois é 
Está tudo errado 
Essa coisa de homem fragmentado
Pedaços sozinhos não formam o todo
Tem que ter cola, remendo, nó
Para que então possamos ser um só
E depois de colado os seus pedaços
Aí sim você pode criar laços.
O cartesiano racional 
não pode excluir seu lado natural.


Ana Barros

quarta-feira, 27 de junho de 2018

Inverno

É inverno
Em dia frios as janelas se encerram
As plantas respiram o ar quente guardado do fogão
As plantas respiram em meus pulmões
E vejo o frio de dentro
Sem entender ao certo
O calor das paixões

É inverno
Faz frio, minha boca se encerra
Nos pulmões só minhas ideias
No coração, o calor das plantas
Que respiram o fogo
Queimado na paixão

Ana Flávia Rocha

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Poema para um Gigante


Porquê tão pequena, me pegaste no colo e me elevaste a um patamar que até então não conhecia
Porquê tão distante do que vias, me sentia em terra de gigante ao seu lado. Tudo era farto, claro e grande
Eu, em minha miudeza, não percebia que me elevavas ao que me pertencia, mas que somente os seus olhos viam 
Porquê mesmo distante, decorei o caminho, e num eterno encanto sonhava trilhá-lo sozinha 
Porquê mesmo pequena, tive a certeza que poderia ser algo além do dito. Reconstruí a casa, a sala e a fala 
Agora grande, ocupo o espaço e a estrada, e já me habito nesse lugar
Agora grande, te vejo tão maior do que via antes
Por que me colocaste numa estrada que só alcancei por ter me elevado em seus ombros
Porquê ser você me fez ser Ana, e ser Ana é uma parte de ser grande, como você.

Ana Flávia Rocha


terça-feira, 10 de abril de 2018

Anoitecer

Já é tarde.
Em minhas mãos
não cabe mais um grão de esperança.

Já não acredito
na alegria alheia,
e tenho o amor como exceção.

Há tempos não me reconheço
nos sonhos antigos de criança.

Quando sonho,
não me vejo —
apenas apareço
como espectadora de motivos alheios.

Há tempos sei,
com nítida certeza,
que morrerei sozinha.
E tenho medo.

Por isso,
peço-lhe:
fique ao meu lado ao anoitecer.

Ensine-me a ver
o que já não consigo ver.

Meu olho,
habituado ao passado,
já não me reconhece.

Fique.
E não me dê amor…
Apenas fique,
e me dê suas mãos —
para que eu possa envelhecer.

Ana Flávia Rocha

sexta-feira, 6 de abril de 2018

Desatinos

Nubla o céu com nuvem
O vento sopra sem direção
O sol se esconde de vergonha
Desatinos das aves causam aversão
Gente não entende o mar
Nem a brisa a cantarolar
Pois não voa a pessoa
Qual andorinha no verão

Ana Flávia Rocha

segunda-feira, 2 de abril de 2018

Insone

Sabia que tinha nascido na data certa, que não haveria estação melhor para o corpo,
e que às vezes o frio não é passageiro.

Sabia também que aconteceria o justo, que tudo flui conforme o percurso do próprio fluido,
e que não resta nada mais do que olhar.

Sabia que morreria um dia — por ser destino certo —
e que amaria novamente, por também ser destino,
mas da ordem do incerto.

Sabia, desde muito criança, que seria mãe do Zeca,
pois ele já estava nela desde que ela nasceu,
assim como ela sabia quem seria sua mãe,
pois estava nela desde que nascera.

Sabia que aprenderia sobre a natureza para se conhecer,
pois na primavera as flores desabrocham
e, no inverno, dormem.

Sabia que há tempos lunares e outros solares,
e que os poemas se formam de dia e nascem à noite.

Sabia que aquela música, naquela hora em que se presta atenção,
sempre tem algo a dizer —
assim como os livros que caem em nossas mãos.

Sabia que a solidão era dada,
apesar de temida e desejada.

Sabia que os sonhos nunca são esquecidos,
apenas os confundimos com os delírios do dia.

Sabia que dormir seria difícil.
Por isso escrevia — e fingia que sabia.

Ana Flávia Rocha

quarta-feira, 21 de março de 2018

Envelhecer

Talvez eu permaneça no limbo, amor
Esperando que uma tempestade arranque 
Essa lente de mal contato

Envelheço à luz do dia,
Aos olhos cegos da noite não me vejo
E já nem sei mais como me portar

Talvez eu morra antes da carne amor
Para que meu olhar não sinta mais o dia
E o corpo padeça antes do alvorecer

Talvez, amor, eu já não seja mais quem eu sou
Talvez eu morra sem envelhecer
E envelheça sem me ver

Ana Flávia Rocha

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Iansã

Quem me rege é feita de ar
Etérea... 

Não sabe onde mora
Mas sabe onde vai
Força destruidora 
De ilusões passageiras 
Vento, raio e trovão 
Raio, trovão e vento 
És tu minha guia
Sou eu quem te admira


Ana Flávia Rocha

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Percurso

No meio do caminho
Tinha outro caminho

Uma viela
Uma estrada
Uma direção

Tinha trilha
Tinha passagem
Tinha rumo

Tinha até uma atalho

Só não tinha
o pé no chão

ana barros

Resistêncialismo