terça-feira, 26 de setembro de 2017

Ela

Era um vestido preto com flores estampadas
Grandes e coloridas, adornadas com poucas folhagens 
Eram pétalas aveludadas, vistosas, que traziam cores à vestimenta
Sentada em um tapete com fibras brancas
A alça do vestido tombada sobre o ombro, deixando-o desnudo
Deixando-a selvagem em meio à relva de fibras felpudas

Aparentava doce e suave

Mas somente ela, como todos os seres, sabia-se gente
Amarga, retalhada, ferida e desgastada pela vida, apesar da pouca idade
Ela sabia-se ela, e isso bastava.... 

Ana Flávia Rocha

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Sequência Etílica

Água sacia a sede
Álcool sacia o ócio 
Onde durmo não ha sossego 
Por isso bebo
E não me importo

***

Versos pingam em mim
Na cabeça 
Onde penso que durmo
...
Versos fogem

***

O poema, qual peixe
Desliza

Nas teias da cabeça 
Rede frouxa de laços largos 

Onde durmo
Não ha abraços


Ana Flávia Rocha


sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Viernes

De você?
Não sei se gosto
Mas do jeito que eu gosto
De você!
Ah... esse eu adoro

Por isso, não seja
Apenas aconteça 

Ana Flavia Rocha

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Aplica-Ativos

Era um sinal incessante
Lembrete de um cuidado
Um aviso externo, automático, e não sentido 
Hora de acordar, dormir, comer e beber
Hora de não ser

Na tentativa de lembrar-se de si
No desejo de que algo além gritasse
Que foi se desconectado do essencial
Aquilo que se guarda, se sabe e não se explica 
Pois nasce e morre órfão

E como não tem pais, não tem nome
Sem nome, não  há  direção
Sem direção apenas se é o que se pensa ser
E como alerta, bate a cada hora
A lembrar do que se deve
Mas nunca se compreende

Ana Flávia Rocha

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Serpente

Te deixarei amor
Te deixarei para ser
Para sempre
Serpente

Dormirei ao relento 
Do lado de dentro da noite 
Junto ao vento
Junto à morte

Descabida
Desentendida
Deslocada

Sem eira
Nem beira
Nem margem

Dissolvida de mim
Em plena liberdade...


Ana Flávia Rocha

Poema Rabugento

Sou do poema escrito, musicado e cantado
Do choro com lágrimas pesadas
Soluços suspensos
Suspiros infundados

Sou da agonia e da raiva
Coração em estilhaço, com batidas aceleradas
Ora imperfeitas
Ora paradas

Sou do sonho, dormindo ou acordada
Da fantasia guiada
Não largo um poema na estrada
Não deixo um desgosto de lado

Sou velha e sombria
Rabugenta e nojenta
Imito os ancestrais ausentes
Nego os pais presentes

Sou o que desconheço
O que não vejo
O que não quero
Mas sou

Ana Flávia Rocha



quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Desejo

Meu desejo imenso
Do tamanho de um oceano
Quer tudo e nada entende
Quer o mundo e nada teme

Meu desejo intenso
Guia que alumia
As veredas da inconstância
As estradas que não são minhas

Meu desejo
Estrela guia
Tudo ouve, tudo vê
Eterno abandono do ser

E sem saber se vens ou se vais
Desejo, seja meu amigo
E não me esqueça jamais

Ana Flávia Rocha