domingo, 30 de setembro de 2012

Eu não durmo

Ele me perguntou se não dormia mais
Não, durante a noite eu não durmo
Perambulo livre dessa carne que envelhece
Alma solta da razão
Eu me enrosco nas peles dos corpos suados das putas
Expostas nas ruas
Sentindo em seus desejos tudo aquilo que minha moral repugna
Mas jamais esquece
Não, durante a noite eu não durmo
Eu fumo o ópio proibido dos amantes
Busco satisfazer os desejos velados
Não me furto ao horror das vontades – sem pudores
Vago nesse mundo impregnado do cheiro azedo do pecado
Não, durante a noite eu não durmo 
Caminho por entre os esgotos onde crianças e ratos dormem
Cheiro o lixo podre que guardo nas entranhas dos canos que minha pele encobre
Lambo os suores dos homens que vagam por entre os sonhos
Eu só durmo quando acordo
Jeito bom de suportar as deslisuras que carrego
O meu pecado que não vela – e revela minha vida quando acordo

Ana Flávia Rocha

Um comentário:

  1. Intensa, como intensas sãos as possibilidades da noite.

    Ótima semana para você!

    ResponderExcluir