Hoje eu acordei com o dedão do teu pé direito em minhas mãos. Engraçado acordar com um pedaço de teu corpo entre os meus dedos... Me dá a impressão que ainda posso juntar os restos de ti em mim. É que quando fostes embora, eu o retalhei por completo. Peguei todos os teus restos e os joguei nos campos escuros de meu corpo. Foi a forma de matá-lo e a esperança de esquecê-lo o mais rápido possível. Pensei que de teus restos espalhados não brotaria flor alguma, pois os joguei em campos áridos. Só não sabia que de minhas entranhas brotariam pedacinhos teus, ainda vivos, em minhas mãos... É que havia esquecido que nos campos encolhidos irrigava meu coração... E num pulsar frenético dos dias, brotam das entranhas minhas fantasias que aparecem em forma de corpo e poesia. Talvez porque em mim pulsa o desejo de saber por onde andas... Hoje eu acordei com um pedacinho teu em minhas mãos. E num gesto de louvor, levei-o ao coração para contemplar a tua imagem que me restou...
Ana Flávia Rocha

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